Poção da Cobra Grande.



Era uma época de aventuras e de medos desafiados. O Poção da Cobra Grande, que ficava do outro lado do rio Iaco, guardava histórias antigas que os mais velhos contavam com uma seriedade assustadora. Dizia-se que ali morava uma cobra imensa, uma criatura ancestral que protegia aquele pedaço do rio com sua presença silenciosa. A lenda circulava pelas bocas da cidade, assustando e fascinando em igual medida, mas, para mim e meus amigos, aquilo era combustível para nossa sede de adrenalina.

A serraria do Evangelista, que ficava bem de frente ao Poção, era uma referência conhecida. Perto dali, o porto da catraia era o último ponto seguro antes de cruzar para a margem onde as águas profundas e misteriosas do Poção nos esperavam. Mesmo sabendo das histórias, não conseguíamos resistir; a atração do perigo e do desconhecido nos chamava com força.

Quando a gente chegava ao barranco, a visão era de tirar o fôlego. O barranco era alto e o poço, imenso e profundo. Ali, sentíamos o frio na barriga que nos empurrava para a água, ignorando o que quer que estivesse escondido lá no fundo. Éramos apenas crianças, mas já com o espírito de "vida loka". Nada parecia nos amedrontar de verdade, pelo menos não quando estávamos juntos, compartilhando a coragem e a sensação de imortalidade que só a juventude oferece.

Pulávamos um por um, com gritos que ecoavam pela mata ao redor, nossas vozes se misturando com o som das águas calmas que se partiam com nosso impacto. Às vezes, a água parecia mais fria do que o esperado, e um arrepio passava por nossas espinhas, como se algo ali nos observasse debaixo das águas. Mas, depois de alguns segundos de silêncio, o medo passava, e o riso voltava com força. Era o Poção da Cobra Grande, afinal; um lugar de respeito, mas também de liberdade.

A cada mergulho, nos sentíamos mais vivos. Talvez a cobra realmente estivesse lá, nos observando, mas não importava. O Poção era nosso, um templo de aventuras e lembranças gravadas na memória com o toque do perigo e o sabor da vida loka.


Por: Josafá Dantas 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colega

Dois contos.

O Acre em 2026: A possível união entre Alan Rick e Gladson Cameli para fortalecer o futuro do estado.